Bando De Cá
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sábado, 26 de abril de 2003  

Zwan - Mary Star of the Sea

Poucas vezes esperei tanto tempo um disco como o da nova banda de Billy Corgan (ex-líder dos Smashing Pumpkins, para os que passaram os anos 90 em Marte), Zwan. Mary Star of the Sea demorou uma eternidade para ser lançado depois do anúncio, no final de 2000, que Corgan tinha um novo projeto. A expectativa geral era grande, mas acredito que ninguém estava preparado para o que vinha pela frente.

Antes de falar do disco propriamente dito, gostaria de esclarecer que acho Billy Corgan um sujeito de uma coerência incrível no decorrer de sua carreira. Sincero na sua arte, podemos ver claramente, se acompanharmos cronologicamente suas composições, o processo de amadurecimento do artista e da pessoa por trás da persona pública assumida, e propositalmente caricata, de rock star. Desde de a angústia pós-adolescente dos primeiros discos dos Smashing Pumpkins Gish e Siamese Dream, passando pela tristeza mais adulta e o conflito entre o niilismo e o sublime do épico Melon Collie and the Infinite Sadness, e chegando à confusão existencial/teológica de Machina - The Machines of God, onde Corgan se apresenta como um homem às voltas com uma espiritualidade fragmentada e indecisa, um disco onde no meio de tanta desordem espiritual e tristeza podemos encontrar faixas como With Every Light, onde o que é cantado é a alegria de se estar vivo, onde a felicidade decorre simplesmente de o sol estar banhando seu corpo. Corgan não estava mais cantando para o adolescente angustiado dentro dele, ou para os adolescentes angustiados do mundo, segundo declaração dele próprio.

O que nos leva ao Zwan. Uma outra declaração atual do compositor é que você pode fingir tristeza bem facilmente, mas não dá para fingir felicidade. Essa declaração diz tudo sobre o disco Mary Star of the Sea: este é um disco alegre, solar. Talvez um dos motivos dessa alegria seja o fato de que Corgan está finalmente em dia com sua religiosidade. A primeira faixa, Lyric, começa com o seguinte verso: "Here comes my faith to carry me on" ("Lá vem a minha fé para me levar adiante). Mais adiante, em Ride a Black Swan, Corgan proclama: "I want us to solve our distrust of everyone / and trust in God" (Eu quero que nós resolvamos a desconfiança que temos de todos / e confiemos em Deus). E, de forma mais explícita, ainda temos Jesus I (que emenda com a faixa-título Mary Star of the Sea), uma espécie de hino gospel hard rock, com acordes mântricos e bateria (a cargo do espetacuar Jimmy Chamberlain, ex-Pumpkin) grandiloqüente. Estranho e, de certa forma, anti-comercial, mas funciona.

Ou melhor, funciona sim, mas não tão bem quanto um disco dos Pumpkins. O fato é que apesar de todo o interesse que este "novo" Billy Corgan possa causar, as músicas, com exceção da épica Jesus I / Mary Star of the Sea, estão aquém das capacidades do compositor. Em sua maioria, são canções pop redondinhas e esquecíveis, sem a pegada pumpkiana a que estamos acostumados. Pelo final do disco, você já está cansado de músicas como "Desire" e "Come With Me", monótonas e parecidas entre si. Parece que na hora de sair do forno, a massa desandou e ficou faltando aquele ingrediente básico de qualquer música pop: a empatia. Elas não te arrebatam e ficam na cabeça, não estão lá os refrões potentes ou os riffs de guitarra poderosos que Corgan costumava criar aos montes, nos seus momentos mais inspirados. Merecem destaque, porém, a belíssima balada Of a Broken Heart; o rock desavergonhado, e de título sugetivo, Baby Let's Rock; e o single Honestly, um pop básico mas eficiente, com uma letra inspirada. Mas para um disco de 14 faixas é pouco. Ou melhor, para Billy Corgan é pouco.

posted by Anônimo | 3:42 PM
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