Bando De Cá
Tudo e um pouco a mais


quarta-feira, 27 de novembro de 2002  

Escrevendo por escrever (26 nov. 02 primavera ainda)

Há pouco dias conversei com o Foreman*, ele me disse que já haviam pessoas em férias escolares em Jales. Pensei: Caralho, quem mandou eu estudar em faculdade pública e de qualidade (?), só vou ter um recesso de duas semanas e um monte de trabalhos atrasados e novos pra serem feitos, calor, quente, praia (cadê você?), ah! GREVE! GOVERNO! O ESCAMBAL! Sessão nostalgia do colégio: as férias começavam sempre na primeira semana de dezembro. Aos poucos os primos de São Paulo, de São Carlos amontoavam-se aos de Jales. Hoje sou um que chega, de volta pra casa dos pais, logo Brasília entrou pra família também. Fim de ano a gente se reúne e fica confabulando.

Estou experimentando sensações novas, como deixar a barba crescer; o que é foda, porque demora mais de mês pra parecer que tenho alguma coisa peluda contornando o rosto, sem contar que incomoda pacas. Uma coisa boa, pra relaxar, que descobri em Brasília é a meditação, melhor que fumar maconha. Aliás, maconha é uma bosta. Não tenho barato do tipo ver o cosmo, elefante rosa, ou qualquer coisa psicodélica surreal – não mesmo. Com a meditação, sim! Você relaxa em 20 minutos, alivia toda a tensão e tem a vantagem de não ficar idiota no resto do dia (assim que me senti quando experimentei maconha). Sem contar que não contribui com o enriquecimento de filhos-da-puta de traficantes e as conseqüências de suas ações na sociedade.

Só pra falar de filmes, assisti a alguns filmes do 35º Festival do Cinema Brasileiro de Brasília. Muita coisa boa – viu seu Renato. Show de filmes e show do público que lotou todas as sessões. Destaco os longas “Amarelo Manga” de Claudio de Assis e “Dois Perdidos Numa Noite Suja” de José Joffily; dos atores gostei do Chico Diaz, Matheus Nachtergaele (ambos em Amarelo Manga), gostei também do Roberto Bomtempo (Dois perdidos ...).

Alguns vencedores do festival, (R$ premiação) – com merecimento

Melhor Filme – AMARELO MANGA (50.000,00)
Melhor Diretor – José Joffily, pelo filme DOIS PERDIDOS NUMA NOITE SUJA (10.000,00)
Melhor ator – Chico Diaz, no AMARELO MANGA (5.000,00)
Melhor atriz – Débora Falabella, no DOIS PERDIDOS NUMA NOITE SUJA (5.000,00).

Vi também as exposições do Picasso (simplesmente belíssima) e Lúcio Costa 100 Anos (foi umas das mais espetaculares e emocionantes exposições, que lição este arquiteto nos deixou – ainda bem!). Em breve ocorre exposição do grande artista plástico – o maior de Brasília – Athos Bulcão, estou escrevendo um ensaio sobre algumas de suas obras em Brasília integradas à arquitetura, esse autodidata da arte sabe como ver e sentir esse mundo e, melhor, como transmitir com sutileza, emoção e beleza.

É isso. Escrevi só por escrever. Sem querer saber se estou sendo útil, se está correto a gramática, ou se você que estar a ler vai se sentir melhor – ou não. Não hoje.

* foreman é um conhecido ae!

posted by Anônimo | 12:53 AM


terça-feira, 26 de novembro de 2002  

COMIX

Comentários sobre as últimas HQs que li:

A PAIXÃO DE ARLEQUIM, de Neil Gaiman e John Bolton: a arte está exceletente, bem diferente, mas a história me decepcionou um pouco. Cadê a paixão do título? A melhor coisa é ficar por dentro da história de figuras míticas como Arlequim, Pierrot, Colombina, citados em canções do Los Hermanos. Editora Conrad.

SIN CITY - A GRANDE MATANÇA, de Frank Miller : uma das melhores histórias em quadrinhos já feitas. Frank Miller é fodão e nessa obra o uso do preto e branco sem meio termo faz a diferença. Mas a história é cheia de ritmo, vitalidade. Parece um bom filme de gangster, só que mais sangrento, mais fudido. Grande Frank. Pandora Books.

CAVALEIRO DAS TREVAS 2, de Frank Miller: Essa mini-série foi bastante polêmica. Muita gente detestou. Mas quando eu fui reler as duas primeiras até gostei e vi que Miller foi incompreendido. A sua obra é bem política e ousada. Cutuca os meios de comunicação, o governo e mostra um mundo mais caótico que o da primeira DK. Editora Abril.

SANDMAN # 20, de Neil Gaiman. O nome da história dessa edição é "Fachada" e fala sobre uma estranha mulher que sofre de depressão por razões singulares. Participação especial da morte. Editora Brainstore.

DYLAN DOG # 3. Essa edição não está tão boa quanto a segunda, mas é bem legal. Só achei meio confusa com essa história de reencarnação misturada com clonagem. Editora Mythos.

PREACHER - CIDADE NUA, de Garth Ennis. Reunião das 3 primeiras edições nacionais de Preacher. Foi o meu primeiro contato com alguma obra do Ennis. Bem malucão e violento. Editora Tudo em Quadrinhos.

Aguardando chegar nas bancas:

SANDMAN #19
SANDMAN: MORPHEUS
DYLAN DOG # 4
MONSTRO DO PÂNTANO - Volume 1
OS MAIORES CLÁSSICOS DO HOMEM ARANHA
ARQUEIRO VERDE - O ESPÍRITO DA FLECHA, de Kevin Smith. Mini-série em 5 edições a sair pela Panini

posted by Ailton Monteiro | 10:37 AM


segunda-feira, 18 de novembro de 2002  

Meu Deus, como isso é velho!

(O PALCO) NA ESTRADA

SEQÜÊNCIA 01 (exterior / estrada / dia)

Vemos as faixas da estrada e a seguir ouvimos os passos de alguém; os pés surgem em sapatos, botas.

SEQÜÊNCIA 02 (interior / palco)

Outros sapatos no palco param. Um ator na ribalta. Ele olha para os pés e ele olha para frente. Ele está vestido com uma camisa branca com muitos floreios e rendas e suas calças são pretas. Ele anda um pouco para frente e subitamente tira uma adaga do bolso de trás ameaçando quem está a sua frente, no caso o público que não vemos.

SEQÜÊNCIA 03 (exterior / estrada / dia)

Uma ponta de faca ameaça o queixo de uma mulher que está com uma mordaça na boca.

A mulher está com seus braços amarrados em suas costas na beira da estrada.

Um homem a ameaça, o mesmo que interpreta o ator no palco. Ele se veste diferentemente.

HOMEM:
– [grita] Não! Nada! Nada! [se acalma] Não há nada aqui... Você e eu...

SEQÜÊNCIA 04 (interior / palco)

O rosto do ator.

ATOR:
– Aqui.

Ele se ergue. Encara o público que está quieto e apreensivo.

ATOR:
– Tirem suas máscaras, por favor! Rasgue–as. Destrua–as. Como eu faço aqui, agora!

O ator faz um corte em seu rosto com a adaga. Som de alguns na platéia se chocando.

ATOR:
– Eu vejo suas faces, de cada um de vocês e nada me agrada mais do que sentir, perceber que vocês não passam de vermes. Eu os domino durante esse momento. Não é perturbador?

O ator parece encarar alguém da platéia.

ATOR:
– Não, você não me domina, eu não existo somente para você. Você não me cria e por isso não pode me dominar. Eu sim, os crio. [pausa] Minhas crias... Tão frágeis, tão carentes... [pausa] Não mais! Não mais as suas inquietudes, não mais suas aspirações, seus traumas, seus desejos. Não vou ser mais a sua muleta, sua muleta para pensar, para refletir, para se divertir, sua muleta para se identificar. Não sou seu espelho, não sou espelho de ninguém! Chega de suas súplicas, chega de seus aplausos. Falsos! Idiotas! A quem enganam? A si próprios? Eu quero sua atenção, eu quero sua obediência, eu quero é o seu dinheiro!

O ator aponta para pessoas da platéia que não vemos.

ATOR:
– Sim, senhora. Sim, senhor. É, meu rapaz. É, minha jovem. O dinheiro. E sua adoração. Ah, sim como eu quero. [ri]

Som de pequeno choro.

ATOR:
– Não. Por favor, eu não... quero dizer, eu...

O ator de súbito se agita, roda pelo palco a esmo e sai pela cortina ao fundo.

SEQÜÊNCIA 05 (exterior / estrada / dia)

Uma lágrima cai do rosto da mulher e é aparada pelo dedo do homem. Ele acaricia o rosto dela.

HOMEM:
– O que você acha que eu posso fazer? Não tema, sua pele é tão... não vale a pena. Se eu disser que te desejo você vira as costas, não é? Se te odeio nada adianta. E mesmo assim, suja, amarrada, dominada, você é que comanda tudo, não é? Nada que eu faça muda isso. Há muito tempo eu acho que a gente devia fazer isso. Tirar as máscaras. Colocar cada coisa no seu lugar, como num palco, com as luzes se acendendo e os aplausos vindo... As cordas estão machucando?

Mulher acena que sim.

HOMEM:
– Oh, minha querida, eu... eu te soltarei daqui a pouco. Não se preocupe.

Uma rajada de vento faz com que ele veja o local onde está: uma estrada deserta, árida.

SEQÜÊNCIA 06 (interior / camarim)

O ator está no camarim iluminado apenas com as luzes em volta do enorme espelho. Está sentado e se maquia.

ATOR:
– Não é esse rosto que faz tudo? Não é essa pele castigada pela maquiagem, dia após dia, espetáculo após espetáculo, esperando sempre aceitação, que faz tudo? [pausa] E essa voz que se faz ouvir ao longe de onde sai o lhe foi dito, o que foi escrito sem saber o que se passa aqui dentro [bate no peito], mas ó dádiva, depois de pronunciadas são partes essenciais de nossa vida como se já habitassem essa morada muito tempo atrás.

Ele lacrimeja um pouco e passa um pano no rosto.

ATOR:
– Se não sou eu o caminho, se não sou eu o instrumento, quem poderia ser? Quem entre os que vivem e os que morreram? Esse corpo eu trabalho, essa visão eu empresto, meu choro, meu riso. Os pés que saltam e caminham horas e horas. Minhas vestes. E esse rosto... Eu te adoro.

Ele toca sua face pelo espelho e desliza por ela.

ATOR:
– Eu faço por ti. Eu preciso de ti. Nada mais resta. Nada mais é necessário. Não é o carinho da mãe, o calor da amante, o abraço do amigo... É você. Como nunca deixou de ser... você.

Ele se aproxima do espelho e se beija.

SEQÜÊNCIA 07 (exterior / estrda / dia)

O homem beija a face da mulher.

SEQÜÊNCIA 08 (interior / camarim)

O beijo no espelho é longo e prolongado, vindo a provocar lágrimas e choro. Ele se recompõe. Arruma a maquiagem. Guarda com cuidado todos os apetrechos. Pega numa bolsa um maço de cigarros e tira um. Acende e lentamente aspira e solta a fumaça no espelho. Ele pára e olha o cigarro se queimar, ele estende a mão e apaga o cigarro em sua palma. Ele segura a dor e ajeita a roupa.

TELA PRETA

SEQÜÊNCIA 09 (interior / palco)

Uma luz se acende e o ator está no palco já maquiado. Ele se curva em agradecimento à platéia que não emite som algum.

ATOR:
– Já podemos continuar com o espetáculo.

Ele respira fundo.

ATOR:
– Serão os deuses pérfidos a ameaçarem minha própria sorte? O destino que já fora traçado vem a sofrer interferências de vós ó imortais. Danem–se as divindades. Eu invoco seus poderes aqui em minha morada!

A luz se apaga de repente e o público se espanta.

Um som de pancada. Corte rápido para a...

SEQÜÊNCIA 10 (exterior / estrada / dia)

A mulher chuta por entre as pernas do homem, que grita, cai ao chão e se contorce.

Ela se levanta com dificuldade e uma luz incide sobre seus olhos. Corte rápido para a...

SEQÜÊNCIA 11 (interior / palco)

Uma vela acesa. Logo o rosto do ator aparece por detrás da vela. Ela é posta na beirada do palco, iluminando uma área pequena na qual o ator fica de pé.

ATOR:
– Um pequeno incidente. Nada de grave. Nada de alarmante. Apenas a luz. Sim, a luz.

Um som de carro surgindo e freiando. O ator se espanta e olha para o lado e atrás. Corte rápido para a...

SEQÜÊNCIA 12 (exterior / estrada / dia)

Um pneu freia no asfalto. Um carro pára e dele surge outro homem, um jovem. A mulher corre em sua direção.

Ela emite sons, já que a boca continua amordaçada. O jovem desce do carro e vem acudi–la.

JOVEM:
– O que houve? Calma, calma.

HOMEM:
– [off] Não faça nada seu vermezinho!

SEQÜÊNCIA 13 (interior / palco)

As luzes são acesas e outro ator (o mesmo jovem da estrada) entra em cena.

JOVEM:
– Mais uma vez venho a te encontrar, caro colega.

O ator se afasta dele.

ATOR:
– Como ousa? Suas entradas são inoportunas como a vez que você foi aparecer em hora inapropriada para minhas necessidades.

JOVEM:
– Suas necessidades? Aquela jovem não diria isso. Ela sofreu, não? Naquele calor.

ATOR:
– Não. [pausa] Não fazia, calor.

JOVEM:
– Fazia. E aquela jovem lá amarrada, deixada ao desespero. Os pulsos em carne viva e a língua seca querendo água. Sim, fazia calor. Como hoje faz frio, como amanhã estaremos dizendo as mesmas falas, sim fazia calor!

ATOR:
– Sim, agora me lembro...

SEQÜÊNCIA 14 (exterior / estrada / dia)

O homem empunha sua faca e desafia o jovem. Ele tira seu canivete. Os dois se estudam.

SEQÜÊNCIA 15 (interior / palco)

Os dois atores se desafiam, os dois com adagas.

SEQÜÊNCIA 16 (interior – exterior / palco – estrada)

Com montagem paralela o ator enfrenta o jovem da estrada e o homem luta com o jovem ator, como se estivessem num mesmo espaço físico.

O golpe mortal é desferido.

Na estrada o homem é atingido. No palco é o jovem ator a sofrer o golpe. Aplausos.

SEQÜÊNCIA 17 (exterior / estrada / dia)

O homem está no chão. Agoniza. Em sua face está um corte idêntico ao feito pelo ator no palco.

HOMEM:
– Maldito. Não sabe o que fez.

O jovem se aproxima.

HOMEM:
– Eu não quero ser lembrado por isso. Só [geme de dor] quero ser lembrado como o grande ator que fui. [respira com dificuldade] Você não sabe disso, não é vermezinho? [tosse sangue] Fui um grande ator, grande. [morre]

Jovem o encara e enxuga a face com a camisa. Vai até a mulher e a solta. Antes de qualquer coisa a mulher sai correndo. O jovem expressa querer falar algo mas desiste.

SEQÜÊNCIA 18 (interior / palco)

O jovem está morto no palco, só que agora uma máscara está em seu rosto. O ator se volta para o público e encontra tudo vazio. Ele desce para a platéia e vê uma caveira numa cadeira vazia. Ele pega a caveira e a encara.

ATOR:
– Foi você o bobo da corte? Ou você é aquele que a pouco me apladiu, que fez minha existência mais valiosa. Que agora eu entendo que era minha razão, meu sentido. Parece que a cada noite as pessoas se despedem e fico eu. Toda noite me despeço de quem não conheço e mesmo assim vivo por isso. E pareciam amigas, pareciam minhas irmãs, meus amores, minha mãe... meu pai.

Ele passa pelas cadeiras vazias com a caveira em sua mão.

ATOR:
– A cada dia eu me perco ao final. E a cada abrir de cortinas eu passo a procurar durante todo o tempo a minha identidade. A minha vítima. O meu mestre.

Ele sobe novamente ao palco.

ATOR:
– Se tudo isso é uma representação ou se minha imaginação fugiu ao controle apenas os outros saberão. Eu não sei nada. Eu me entrego.

O ator ergue os braços e se curva como se agradecendo.

ATOR:
– Eu faço de vocês meus senhores. Eu faço de mim escravo. E, porém, sigo...

Ele se vira e caminha, saindo pela cortina. As luzes se apagam.

SEQÜÊNCIA 19 (exterior / estrada / dia)

O jovem entra no carro e parte. Logo a diante ele vê a mulher parada na beira da estrada, braços juntos ao corpo, estática. Ele passa e olha pelo vidro do carro e depois pelo retrovisor. Segue.

A mulher está com o olhar perdido ao longe. Momentos se passam. Vento no cabelo. Ela fecha os olhos.

FIM

posted by RENATO DOHO | 8:20 PM


quarta-feira, 6 de novembro de 2002  

VERMELHO

Os dois estavam de frente um para o outro. Aquele dia não era como qualquer outro. Eles iriam ter a sua primeira relação sexual juntos. Um vinho caía bem, para diminuir a tensão e torná-los ao mesmo tempo mais excitados e relaxados. O local estava agradável. Bebiam o vinho, sabiam que aquele era o dia. O namoro estava indo bem, mas sexo era fundamental. Outros assuntos apareciam na conversa, mas eles sabiam que nenhum desses asssuntos realmente importava. Ele tenta quebrar o gelo:

- Como é? Vamos mesmo hoje?
- Você está preparado para qualquer coisa hoje à noite? - ela perguntou.
- Sim - respondeu, achando a pergunta um tanto quanto estranha, e sentindo um frio na barriga.
- Então vamos.

Nesse instante de nervosismo e excitação, ele derruba seu copo de vinho. O vermelho tinge a toalha da mesa. Rapidamente, pega o copo. E tem uma estranha sensação. Já tinha visto em algum filme que vinho derramado não era sinal de boa sorte. Mas tenta esquecer a superstição e volta a encher o copo.

Já não aguentando mais a expectativa, eles pedem a conta. Ao sair do bar, sentem aquela sensação agradável de leveza provocada pelo álcool. Aquilo é bom. E a brisa da noite e o som do mar tornam a sensação ainda mais gostosa. Pegam o primeiro táxi que aparece e partem para o motel. Entram na suíte. Ele liga o rádio numa dessas FMs pop. E começam a se acariciar, a se beijar. Ele tira a parte de cima da roupa dela. Ela faz o mesmo com ele. Ele elogia os belos seios dela. Ela fala que outros já disseram o mesmo. Ele continua nas carícias. Ela responde com sons que o excitam. Até que ela pára e fala:

- Eu tenho uma coisa pra te dizer.
- O que? - pergunta ele ainda beijando o seio dela.
- Eu sou virgem.
- O que?!?
- É verdade. Eu já fui pra motel diversas vezes com outras pessoas, mas o medo não deixou eu me livrar disso. Você me ajuda?

Ele fica atordoado. Isso nunca acontecera com ele antes. De repente, todos os detalhes da relação que eles tiveram antes começa a fazer sentido. A essa altura a excitação já estava prejudicada. Apesar do baque da surpresa em tal momento, ele tenta. Em vão. Ela chora. Começa a achar que jamais vai conseguir perder a virgindade. Ele a acaria no púbis. E usa seus dedos. Até que gotas de sangue vermelho molham a cama. Ela chora. Ele acha lindo a visão de seu rosto sentindo dor. Pensa no limite entre a dor e o prazer. No rádio, toca uma canção:

"Nunca pensei um dia chegar
E te ouvir dizer
Não é por mal
Mas vou te fazer chorar
Hoje vou te fazer chorar."

E ele, com a sensação de dever semi-cumprido, começa a pensar nas coincidências daquela noite.

posted by Ailton Monteiro | 3:11 PM
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